Leia na íntegra o discurso de posse da presidente da Findes Cris Samorini

Cris Samorini assume a presidência da Findes

 

Agradeço a presença de cada um neste momento tão marcante e desafiador.

Marcante porque representa mais de 20 anos dedicados ao associativismo, de envolvimento com o Sistema Findes e suas entidades, uma trajetória que ajudou a definir a empresária que sou. Nada mais simbólico, portanto, do que estar aqui hoje para esta cerimônia, afinal, o Senai foi importantíssimo na complementação do meu conhecimento técnico do setor gráfico e me lembro bem, aqui ao lado, da Escola de Formação de Operadores do setor gráfico.

Muito vem sendo falado sobre os desafios que a indústria vive no Espírito Santo e no Brasil. É de conhecimento de todos que a pandemia afetou nossas relações pessoais, nossos negócios e todos os setores da economia. Estamos diante de um momento sem igual na história recente do mundo. Mas como toda crise, a pandemia representa também a oportunidade para um ponto de virada na trajetória da indústria.

Para entendermos o futuro, permitam-me voltar brevemente ao passado. Cem anos atrás, quando meu bisavô fundou a Grafitusa, primeira gráfica do Espírito Santo, o estado tinha sua economia totalmente dependente da produção de café. Até a década de 60, a indústria representava apenas 5% do valor adicionado local. Foi somente após a crise que provocou a erradicação dos cafezais que o Espírito Santo se industrializou com intensidade.

Em meados dos anos 70, com a ajuda da Findes, que formulou políticas públicas de desenvolvimento econômico, os grandes projetos foram implantados no estado, como a Vale, a Aracruz Celulose, a CST e a Samarco. Desde então, a indústria não parou de gerar negócios, empregos e qualidade de vida, chegando a representar 43% da economia na década de 90.

Hoje, temos também grandes oportunidades na cadeia de petróleo e gás, indústrias de alto valor agregado de Norte a Sul do estado, setores consolidados e competitivos em nível mundial, e outros com alto potencial de crescimento. O que precisamos é abraçar uma agenda de produtividade e competitividade.

Senhoras e senhores,

Estamos novamente em um momento crucial para o futuro do Espírito Santo. E cabe a esta geração apontar uma nova rota de crescimento para a economia capixaba.

Em entrevista recente ao Valor Econômico, o presidente Robson Braga de Andrade falou sobre a necessidade de renovação nas entidades. Na mesma reportagem, falei que não basta mudar os personagens nos cargos de liderança, é preciso olhar para o mundo sob novas perspectivas para obter novos resultados.

Precisamos de um projeto mais ambicioso de país.

Os motores de crescimento da economia brasileira já vinham falhando antes mesmo da pandemia. Nossa agenda ainda está pautada nos gargalos históricos do país.

Gastamos anos discutindo saneamento e retardando a entrada de investimentos bilionários no setor, enquanto países como Alemanha e Israel, onde tive a oportunidade de aprender mais sobre inovação, estão debatendo o uso de inteligência artificial no chão de fábrica.

A reforma tributária ainda dá passos tímidos no Congresso e o Brasil segue com a maior carga tributária e a pior burocracia da América do Sul, perdendo competitividade frente a vizinhos menores, como Chile e Paraguai.

No Espírito Santo, temos um ambiente de negócios favorável ao investimento, com bom diálogo entre setor produtivo e poder público, o que tem resultado em um ciclo positivo de atração de novos negócios.

O governador Renato Casagrande tem mantido a porta aberta para nós e fez da agenda de desenvolvimento e inovação sua prioridade. Mas estou certa de que poderemos fazer ainda mais na retomada, tornando o Espírito Santo um modelo de sucesso, que sirva de referência para todo o Brasil.

Para isso, é necessário destravar investimentos em infraestrutura ferroviária, portuária e rodoviária, estimular parcerias público-privadas, privatizações, concessões e também equalizar a tributação nos setores que operam em desigualdade com outros estados.

Temos dialogado muito também sobre os desafios do ensino médio integrado ao curso técnico. Atualmente, apenas 10% dos jovens brasileiros se formam nessa modalidade, muito distante do resultado de nações desenvolvidas. Na Alemanha, 48% dos alunos cursam o ensino técnico. O Senai pode ser um grande parceiro da SEDU neste processo.

Junto à bancada federal, vamos seguir articulando apoio a projetos com alto impacto na economia capixaba. É o caso do Gás para Crescer, que barateia o insumo, amplia a competitividade do Espírito Santo e destrava bilhões em investimentos.

O setor produtivo capixaba precisa se engajar na defesa da BR do Mar, que desburocratiza a navegação por cabotagem. O Brasil tem mais de sete mil quilômetros de litoral, mas realiza apenas 11% do transporte de produtos via cabotagem. Um potencial desperdiçado.

Amigos e amigas,

Meu entusiasmo para comandar uma instituição com o porte e a relevância do Sistema Findes vem da confiança que tenho em nossa capacidade de criar e reagir. Esta Federação, que no dia de hoje completa 62 anos de existência, sempre soube saltar os obstáculos para chegar mais longe.

Nos últimos anos, a Findes tem alcançado números expressivos, como Léo teve a oportunidade de apresentar.

Sabemos também que ainda há muito a ser feito: o Espírito Santo possui 16 mil indústrias, mas temos contato permanente com somente três mil delas. Um passivo enorme, sobretudo entre as micro e pequenas empresas.

O Senai deve ser a primeira lembrança na cabeça de quem procura soluções. Ao lado do Sesi, que vem se consolidando como referência em saúde e segurança do trabalhador, devemos apresentar um portfólio de serviços de excelência, de acordo com a demanda real da indústria, tratando sobre temas relevantes, como eficiência operacional e produtividade, a exemplo do que fizemos com o IST.

O primeiro passo é saber ouvir. E nosso plano de trabalho partiu dessa premissa.

Fizemos um esforço enorme de construção coletiva, apostando no diálogo como matéria-prima para um projeto de sucesso. E deu certo.

Temos hoje um plano detalhado de como aperfeiçoar os acertos da gestão anterior e avançar nos pontos críticos que identificamos. Diante do contexto imposto pela pandemia, estamos trabalhando na revisão do material, traçamos ações prioritárias para os primeiros cem dias de gestão e daremos respostas rápidas às indústrias.

A articulação institucional foi o tema mais apontado pelas lideranças da indústria. Temos, portanto, uma agenda clara, com um diálogo propositivo e transparente.

Queremos intensificar a agenda de defesa dos interesses da indústria, debatendo temas tributários, ambientais e de política industrial.

Dois bons exemplos recentes foram a Câmara de Conciliação, Mediação e Arbitragem Cindes-Findes, que fortaleceu nossa ponte com o Judiciário, e o Indicador de Ambiente de Negócios, criado pelo Ideies, que concentra informações estratégicas.

O Ideies, aliás, vem sendo determinante para fornecer evidências e dados técnicos que embasem novas políticas de desenvolvimento industrial.

Quando a pauta é inovação e transformação digital, é dever da Findes preparar as indústrias para essa nova era. Nosso ecossistema de inovação precisa ganhar densidade, o assunto deve ser massificado, fazer parte das conversas e ganhar escala.

A atuação do Senai, mais uma vez, tem sido determinante para este objetivo. O FindesLAB e a Mobilização Capixaba pela Inovação vão tornar a pauta cada vez mais acessível para micro e pequenas empresas, com ações simples, didáticas e de baixo custo.

A modernização da governança e da gestão também era uma demanda antiga da Findes, que ganhou corpo com a reforma do estatuto. Vamos atuar alinhados a boas práticas de grandes empresas, com um Conselho de Administração. É uma mudança cultural, que conta com a participação fundamental da nova diretoria.

São empresários voluntários, dedicados, que toparam essa empreitada com ânimo e serão decisivos para tornar a gestão da Findes mais eficiente.

Prezados,

Tenho plena convicção de que o Espírito Santo estará, muito em breve, entre os estados de referência do país. Temos equilíbrio fiscal, material humano, ótimas universidades e empresas conscientes de seu papel na sociedade, todos os insumos necessários para seguir avançando e construindo as bases de uma economia cada vez mais sólida e uma indústria mais produtiva, inovadora e competitiva.

A Findes, podem contar, seguirá sempre em defesa do desenvolvimento socioeconômico do Espírito Santo. Foi assim na década de 70 e assim será pelas próximas décadas.

Agradeço a atenção de cada um e todo o apoio recebido ao longo desta trajetória. Sei a dimensão do desafio que enfrentarei ao lado da diretoria que me acompanha. Como empresária, como gestora, como mãe e como mulher. Seremos avaliados por nossas entregas nos próximos três anos e trabalharemos com a máxima dedicação, servindo de exemplo para que novas lideranças surjam no meio empresarial.

Minha gratidão especial ao meu filho, Rodrigo, por toda a compreensão, ao meu irmão, por topar os maiores desafios ao meu lado, e ao meu pai, Túllio Samorini, que me apresentou ao associativismo e me ensinou que o bem coletivo sempre nos dará os melhores resultados. Tenho orgulho da trajetória que nossa família escreveu nos últimos cem anos e estou certa de que ainda colheremos os frutos da transformação que este grupo de lideranças se empenhou em realizar.

Nossa campanha se guiou pela seguinte questão: qual a Findes que queremos? Então concluo com uma provocação que vale para todos nós: qual é o Espírito Santo que queremos?

Contem com o Sistema Findes para fazer destas respostas uma realidade.

Obrigada!

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