Artigo – Educação ambiental no século XXI – Reavaliando paradigmas

Roosevelt S. Fernandes é vice-presidente do Conselho de Meio Ambiente da Findes.

No seu sentido mais amplo, educação significa o meio formal (ação do Estado) e informal (ação difusa) em que os hábitos, saberes, costumes, maneiras de interagir com o ambiente e valores de uma comunidade, são transferidos de uma geração para a seguinte.

Por sua vez, a educação ambiental é uma dimensão da educação, atividade intencional que deve imprimir ao desenvolvimento individual um caráter social em sua relação com a natureza e com os outros seres humanos, visando a potencializar a prática social e a ética ambiental.

Tais conceitos servem como pano de fundo para a nossa reflexão: o princípio do desenvolvimento sustentável não é mais o caminho único para enfrentar as diferentes facetas da temática ambiental. Ou seja, já passamos da fase do “desenvolvimento sustentável”; a hora agora é da “produção e consumo sustentáveis”.

Para isso, as ações de governo e as pressões da sociedade devem ter a adequada, imediata e responsável resposta – com práticas sustentáveis – por parte do setor produtivo, sem a qual não há como levar o Brasil para padrões mais sustentáveis de produção e consumo.

Por outro lado, nesse caso, ao analisar a posição das maiores economias mundiais, observa-se uma nítida preocupação com a crise financeira, porém, com um discurso vago e breve em relação à problemática ambiental.

No entanto, entre o contexto limite das visões dos pesquisadores e dos políticos, persiste uma análise de idêntica importância, ainda não suficientemente abordada, voltada a saber como a sociedade está preparada para, depois de devidamente informada, pressionar por soluções proteladas, aceitar as consequências da adoção das mesmas e, sobretudo, como nossos futuros gestores, no horizonte do curto e médio prazo, estão preparados não apenas para implementar as propostas conhecidas, mas gerar novas e efetivas respostas para o cenário que a sociedade deverá enfrentar, já que o tempo, nesse novo contexto, é uma variável progressivamente mais crítica.

Se agregarmos a esse cenário os resultados do estudo desenvolvido pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (2006), com a pesquisa realizada em 57 países em diferentes continentes, que mostra que 37% dos alunos brasileiros com 15 anos de idade apresentam um nível mínimo de conhecimento ambiental, ficando abaixo da avaliação do Brasil apenas países como Catar, Quirguistão e Azerbaijão, vemos que nossos jovens estão em posição carente de conhecimento mínimo necessário para lidar com os desafios ambientais.

Ou seja, a pesquisa deixa claro, inclusive no Brasil, que os estudantes estão preocupados e conscientizados de que é preciso agir como ponto positivo; entretanto, não evidenciam condições plenas de explicitar e assumir seu papel no processo da ação desejada. O estudo infere, entre outros pontos, que os estudantes falam muito sobre temas ligados à área ambiental, mas parecem saber pouco a respeito do assunto, apesar das múltiplas, com alocação significativa de recursos financeiros, investidas, através de programas de educação ambiental desenvolvidos e implementados. O problema está no reduzido compromisso de verificação da eficácia dos mesmos.

Tendo esses aspectos em foco, em 2003 foi criado o “Núcleo de Estudos em Percepção Ambiental (Nepa)”, voltado especificamente a avaliar o nível de percepção ambiental e social de segmentos formadores de opinião, priorizando as áreas educacional e ambiental. Desde então o Nepa (hoje, Nepas) vem consolidando um significativo banco de dados, gerado a partir de pesquisas desenvolvidas com estudantes e professores dos ensinos fundamental, médio, médio-técnico e superior, assegurando o conhecimento efetivo e quantificando o perfil de cidadania ambiental de tais segmentos.

Como decorrência da análise desses dados, em 2006 o Nepas fez a proposição da criação do Enade Ambiental, não compulsório, de iniciativa das próprias instituições de ensino superior, voltado a identificar e quantificar as lacunas do conhecimento ambiental de estudantes ingressantes e concluintes. Trata-se de propiciar aos gestores educacionais e aos gestores públicos informações que possam dar base à definição de ações preventivas e corretivas que assegurem um mínimo nível de conhecimento ambiental com o qual se chegue ao mercado de trabalho.

Tudo isso nos leva a caracterizar a necessidade de uma reavaliação profunda da retrospectiva da educação ambiental no século 20. É preciso ter em conta a perspectiva sobre o que deverá ser definido como novos paradigmas para a educação ambiental do século 21.

Não que isso seja entendido como uma identificação de erros, dado que na realidade não erramos na forma como até então vínhamos encaminhando o processo de educação ambiental, mas de reconhecer e assumir que posturas aceitas como válidas precisam passar por uma profunda reflexão. Assim, poderemos projetar o que deverá ser a educação ambiental no século 21.

Pensar, por exemplo, em estruturar programas de educação ambiental sem um diagnóstico prévio da percepção ambiental e social do segmento a ser atendido, bem como não dispor de formas de pós-avaliação da eficácia dos resultados de tais programas, não poderá mais constar das premissas para as novas intervenções.

Ou seja, não basta “oferecer educação ambiental”: há de se ter certeza de que estamos realmente “mudando a percepção ambiental e social da sociedade” com conscientização, exame crítico e desenvolvimento da cidadania.

Um bom exemplo disso pode ser visto através da Resolução nº 001/2016 do Conselho Estadual do Meio Ambiente (Consema) do Estado do Espírito Santo, que inseriu os estudos prévios de avaliação da percepção ambiental e social como base para a estruturação de programas de educação ambiental e de comunicação social.

Poder público e empresas, cada um na sua área de atuação de gestores e financiadores de programas de educação ambiental, devem fazer, isoladamente e em conjunto, essa reflexão. A sociedade, por sua vez, deve acompanhar e cobrar resultados.

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