Secretário Nacional de Energia debate crise hidroenergética no Conselho Estratégico da Findes

Presidente da Findes, Cris Samorini, em reunião com o secretário nacional de Energia Elétrica, Christiano Vieira da Silva

Secretário de nacional de energia, Christiano Vieira da Silva, afirmou que o fornecimento de energia e a potência estão garantidos, mas que ainda é preciso a colaboração de todos os consumidores – indústria, comércio e residências

A Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes) promoveu na terça-feira (21) uma reunião especial do Conselho Estratégico da entidade. O encontro online contou com a apresentação do secretário de Energia Elétrica do Ministério de Minas e Energia, Christiano Vieira da Silva, que falou sobre o enfrentamento à crise hidroenergética no Brasil.

De acordo com o secretário, o fornecimento de energia e a potência estão garantidos. Porém, apesar da sua sinalização positiva de que não haverá interrupção no fornecimento, o assunto ainda requer a atenção e a colaboração de todos.

“No pior cenário, no mais conservador, nós teríamos em novembro o uso de parcela da reserva operativa, que é uma reserva de potência de 5GW disponível no sistema para ser usada em caso de contingência. A perspectiva que tínhamos no final de julho era mais severa e usaríamos bastante dessa reserva. As ações que foram tomadas estão surtindo efeito”, explicou.

Ainda de acordo com o secretário, a situação climática que experimentamos ao longo de 2021 não é algo particular do Brasil. “Quando olhamos o mundo, percebemos que mudanças nos padrões climáticos, nos regimes de chuva, nos padrões de insolação, vento e temperatura, perpassam o mundo. Isso vem afetando a geração de energia”, apontou o secretário.

Depois da seca e do racionamento de energia elétrica de 2001 foi criado um comitê de monitoramento do setor elétrico. Essa estrutura faz o monitoramento e o acompanhamento permanente das condições de oferta e demanda. De acordo com o Christiano, essa governança do setor vem sendo fundamental para enfrentar a situação.

“Identificamos um cenário de maior escassez de água a partir do final da estação seca de 2020, e as medidas efetivas começaram a ser tomadas em outubro de 2020 e não pararam. Quando percebemos que se fazia necessário adotar ações adicionais que perpassavam não só o setor elétrico, mas também outros usuários da água, o governo federal criou a câmara de regras excepcionais”, relatou Christiano Vieira da Silva.

A presidente da Findes, Cris Samorini, que conduziu o encontro com e secretário, enfatizou a necessidade de as indústrias darem o exemplo reduzindo seu consumo de energia elétrica e aderindo aos programas do governo federal voltados para este objetivo.

“Precisamos da colaboração de todos os consumidores (residenciais, comerciários e industriais) para passarmos por este período. Por isso, mais uma vez, ressalto que a Indústria capixaba deve aderir aos programas do governo federal de redução voluntária de demanda e de uso de energia elétrica e poupar energia”, apontou a presidente.

A industrial ainda destacou que o Estado já tem boas iniciativas com relação à geração e uso de energia elétrica.

“O Espírito Santo possui indústrias autossustentáveis, com alta produção de carga elétrica, e que inclusive contribuem com o abastecimento da rede, injetando o seu excedente nela”, comentou Cris Samorini.

 

VEJA OS PRINCIPAIS PONTOS ABORDADOS

Crise hídrica

Secretário nacional de energia, Christiano Vieira da Silva | Foto: Roque de Sá/Agencia Senado

A falta de chuvas no país vem reduzindo os reservatórios nacionais. Para se ter uma ideia, até meados de agosto de 2020 o armazenamento de água nos principais reservatórios do Brasil estava em 51%. Em agosto deste ano, esse nível era apenas de 29,8%.

De acordo com o secretário nacional de energia elétrica, Christiano Vieira da Silva, estima-se que até o final de setembro deste ano o nível chegue em torno de 14%, sendo que o menor nível dos últimos 20 anos foi 19%, em 2014. Com a seca vivida no país, a redução do nível de água nos reservatórios nacionais desencadeia em menor geração de energia.

Sistema elétrico mais robusto

O sistema de transmissão de energia elétrica atual está muito mais robusto do que no passado. Para se ter um comparativo, na crise elétrica de 2021, quando houve racionamento de energia no país, o Sul do Brasil tinha sobra de geração de energia, mas não conseguia escoar o excedente para o Sudeste porque não havia capacidade de transmissão.

“Em 2001, eram 70.034 km de linhas de transmissão, hoje são 164,843 km. Além disso, neste ano estamos tendo recordes de geração de energia eólica no Nordeste e conseguimos trazer o excedente para o atendimento às regiões Sudeste e Centro-Oeste”, explicou Christiano Vieira da Silva.

Mudança da matriz energética

A composição da matriz energética do país vem mudando desde 2001. Naquele ano ela era composta basicamente pela geração hídrica (85%), com o restante formado por petróleo e carvão (11%), nuclear (2%) e biomassa (2%). De acordo com o secretário, o Ministério de Minas e Energia já vem trabalhando para a mudança desse cenário. Em 2014, a hidroeletricidade reduziu sua contribuição para 67% e neste ano passou para 61%.

“Quando olhamos a nossa percepção de futuro, percebemos um crescimento de 50 GW na capacidade instalada do Brasil para 2030, principalmente com uma forte expansão da produção eólica e solar, aumentando sua participação na matriz nacional de 14% para 27%. De acordo com o indicativo de planejamento, passaremos, em 2030, para uma composição de matriz onde apenas 49% da fonte de energia será hídrica, então teremos uma menor dependência da hidroeletricidade e da captação da água”, explicou.

Planejamento do governo federal e gestão centralizada

O governo vem executando um plano de trabalho da crise hídrica no setor elétrico desde o ano passado. “Ao mesmo tempo em que reduzimos a geração hidroelétrica, reduzimos a vasão dos reservatórios e abrimos espaço para a geração termoelétrica, ativamos a linha de transmissão de energia eólica do Nordeste para o Sudeste e flexibilizamos requisitos de transmissão”.

Entre as ações conjunturais estão:

  • Acionamento de geração termelétrica adicional e importação de energia desde outubro de 2020;
  • Campanha de uso consciente de água e energia desde dezembro de 2020;
  • Ações para aumentar a oferta de energia (Usinas Merchant, excedente de geração de biomassa);
  • Flexibilização de restrições hidráulicas e de limite mínimo de armazenamento;
  • Flexibilização do intercâmbio de energia elétrica para aumentar a exportação de excedentes energéticos.

Bandeira tarifária de escassez hídrica

Outra medida para frear o desperdício de energia foi o acionamento da bandeira tarifária de escassez hídrica até o dia 30 de abril de 2022. O reajuste é de cerca de 6,78% na tarifa média de energia. Na prática, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a cada 100kWh consumidos, o usuário paga R$ 14,20 a mais na conta de luz.

Programa de redução voluntária de demanda de energia elétrica

O MME criou o programa de Redução Voluntária de Demanda de Energia Elétrica (RVD), que vai durar até 30 de abril de 2022. O programa é voltado a grandes consumidores e prevê o pagamento de compensação financeira às empresas que estejam dispostas a reduzir o consumo por períodos de quatro e de sete horas por dia. Com a medida, o governo pretende estimular a economia diária de energia de 20 MW a 35 MW, por meio de compensação financeira.

Bônus do programa de incentivo à redução voluntária de consumo de energia elétrica

Residências, empresas e indústrias que reduzirem seu consumo de energia entre os meses de setembro e dezembro deste ano, em relação ao mesmo período de 2020, terão bônus na conta de luz de acordo com o secretário de energia elétrica.

Para quem reduzir o consumo entre setembro e dezembro de 2020 em 10%, haverá um pagamento de bônus de R$ 50 a cada 100kwh economizado. Já se o consumo for superior a 10%, o bônus será de até 20% do valor da conta, a ser pago a partir de janeiro.

Medidas adicionais para enfrentar a transição do período seco para o úmido

De acordo com o secretário nacional de energia elétrica, a discussão atual é se vai chover mais ou menos e como essa energia será armazenada.

“Para isso, será preciso realizar a transição do período seco para o úmido para garantir que nós tenhamos confiança e confiabilidade para o período de 2022. Esse aprendizado e vivência de 2021 levaremos para 2022. A nossa expectativa é que no final de março, terminando a piracema, baixaremos a vazão de água nos reservatórios e passemos a gerar mais energia termoelétrica”, comenta.

Entre as ações estruturais a serem tomadas estão:

  • Leilão Simplificado para Contratação de Capacidade para abril de 2022;
  • Leilão de Reserva de Capacidade para contratação de geração termelétrica com previsão de entrada em 2026;
  • Continuidade do funcionamento das termoelétricas;
  • Expansão da oferta de geração e transmissão já contratada, em mais 6 ou 7GW;
  • Expansão da rede de transmissão em mais 7km.

 

Por Siumara Gonçalves

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