Menos juros, mais crescimento

A retomada econômica do Brasil vem se consolidando a cada dia. Os avanços promovidos pela agenda modernizadora no Congresso – que ainda dependem, entre vários projetos, da aprovação das reformas da previdência e tributária, da lei de licenciamento ambiental e do marco legal das agências reguladoras – evidenciaram o potencial de recuperação do país e apontaram o futuro que poderemos alcançar se mantivermos o caminho da mudança. Bastou enviar sinais de melhoria do ambiente de negócios, ajustando as contas e promovendo a segurança jurídica, para atrair a atenção do mercado, ampliar os índices de confiança entre investidores e aquecer a economia.

O cenário favorável ao crescimento, no entanto, contrasta com os entraves à concessão de crédito no país. Análise publicada pelo Ideies no Boletim Econômico Capixaba mostra que houve retração de 5,4% no volume ofertado para pessoas jurídicas no país em 2017. No Espírito Santo, o saldo de operações sofreu recuo para pessoas físicas e jurídicas, ficando abaixo da média nacional. Ao observarmos as taxas de juros, o problema se agrava.

Embora seja um conceito pouco explicado para a sociedade, o spread impacta a forma como planejamos nossas finanças, na empresa ou na família. Em resumo, o termo representa a diferença entre os juros que um banco paga quando pega dinheiro – neste caso, o valor da taxa Selic, hoje a mais baixa da história – e o quanto cobra de quem pega emprestado. Um bom exemplo dessa discrepância foi apresentado pela Fiesp na campanha “Chega de Engolir Sapo”, que luta pela redução dos juros bancários.

Levantamento da Federação paulista mostrou que, se um brasileiro tivesse depositado R$ 100 na caderneta de poupança há dez anos, teria R$ 198,03 na conta hoje; no entanto, se esta mesma pessoa tivesse gastado R$ 100 no cheque especial no mesmo dia, teria agora uma dívida de R$ 4.394.136,97 – isso mesmo, quatro milhões de reais em apenas dez anos. Os valores precisam ser revistos se queremos aquecer nossa economia e estimular o consumo, fazendo crescer a indústria, o comércio e o setor de serviços. Na comparação com outros países, a diferença é absurda.

Em 2017, o spread médio do Brasil foi de 37,5% ao ano, número 16 vezes maior que a média dos países pesquisados pela Fiesp, como Itália, Suécia, Chile e Japão – com 2,33% ao ano. Mesmo em operações de baixo risco, como empréstimos consignados para funcionários públicos e aposentados, o spread varia entre 16% e 18,4%. Nem a existência de maus pagadores justifica tamanha disparidade: a Itália possui uma taxa de inadimplência (17,1%) três vezes maior que a brasileira (5,7%), mas possui spread de apenas 4,7%. É preciso reconsiderar tais valores.

Se o spread brasileiro fosse cobrado na mesma proporção dos países pesquisados, nossas famílias deixariam de gastar R$ 204 bilhões com pagamento de juros todos os anos – montante que seria investido em eletrodomésticos, imóveis, viagens e lazer, fazendo girar a roda da economia nacional. Não podemos aceitar que o desenvolvimento do país fique atrelado ao interesse de poucos grupos bancários. É preciso coragem para exigir mudanças que ampliem o poder de compra dos trabalhadores.

A sociedade capixaba pode contar com a Findes na defesa de um ambiente cada vez mais justo para quem deseja trabalhar, investir e prosperar.

 

Léo de Castro 

Este artigo foi publicado originalmente no jornal A Tribuna no dia 29 de Março de 2018, na coluna Tribuna Livre.

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