Produto Interno Bruto com crescimento próximo de zero, aquecimento da economia no segundo semestre e recuperação lenta da indústria. Essas são as projeções da Federação das Indústrias do Estado do Espírito Santo (Findes) para o Brasil e o Espírito Santo em 2017, segundo o presidente do Sistema Findes, Marcos Guerra, e o diretor executivo do Instituto de Desenvolvimento Educacional e Industrial do Espírito Santo (Ideies), Dória Porto.
“O ano de 2017 continuará sendo desafiador para o setor produtivo”, pontua Guerra. O presidente lembra que, sob a urgência de ajustar contas, enxugar quadros e fazer aportes de capital para manter a produção em ritmo abaixo do esperado, a indústria “cortou na carne” em 2016. “Esperávamos que seria um ano ruim, mas não tínhamos ideia de que haveria tantos empecilhos. Entramos na maior crise econômica dos últimos 100 anos”, enfatiza.
O mau resultado de 2016 influenciará os números deste ano. É o que afirma Dória Porto, apoiado em projeções do Ideies. “No ano passado, o PIB do Espírito Santo fechou em queda estimada de 11% a 12%; no Brasil, o recuo do PIB deve chegar aos 3,5%. Os dados geram um carregamento estatístico de 1% e 1,5%, respectivamente. Por essa razão, haverá crescimento nulo no PIB nacional e de apenas 0,5% no Espírito Santo em 2017”, defende.
Porto enumera a sequência de problemas que agravaram a crise econômica: o alto endividamento, a inflação e o desemprego afetaram diretamente o consumo das famílias – que representa 60% do resultado do PIB sob a ótica da demanda doméstica. O arrefecimento da economia gerou consequências nos setores responsáveis pela oferta, também sufocados pelo endividamento, pela restrição de crédito e pelos altos juros.
Estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI) revela que as indústrias operam com 34% de ociosidade, isto é, utilizam apenas 66% da capacidade instalada. O número está diretamente relacionado ao fechamento de postos de trabalho, chegando a 12 milhões de desempregados – saldo que não foi maior porque a confiança dos empreendedores deu sinais de melhoria após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, de acordo com Marcos Guerra.
“O Brasil viveu um momento de grande expectativa com a saída da ex-presidente. A crise política foi uma das principais causadoras da crise econômica, gerando incerteza e desconfiança nos investidores. As pautas apresentadas pelo presidente Michel Temer e o bom diálogo com o Congresso trouxeram esperança para os empreendedores, que apostaram na retomada para ‘segurar’ o trabalhador mais qualificado”, descreve.
Desempenho por setor
A indústria capixaba enfrentou um ano peculiar, em razão da paralisação da Samarco, responsável por 4,7% do PIB estadual. A ausência da mineradora foi determinante para a queda superior a 30% registrada no setor extrativo, resultando na maior retração histórica da produção física da indústria capixaba, medida pelo IBGE desde 2002. De janeiro a outubro, último dado disponível, a indústria geral do Estado registrava recuo na produção de 21,6%, ante decréscimo de 7,7% no país. Em 2009, a queda do setor capixaba foi de 14,9%.
Na indústria de transformação, relacionada a produtos de maior valor agregado, o desempenho segue a tendência nacional. “Os setores de celulose, impulsionado pela demanda chinesa, e de rochas têm potencial para crescer com a estabilidade do dólar e a conquista de novos mercados internacionais. Se o mercado interno se aquecer, ganharão as indústrias de confecção e móveis, mais competitivas com a diminuição das importações”, detalha Guerra.
O presidente acredita que a consolidação da indústria automobilística, da indústria naval – que recentemente fechou contrato com a Petrobras para finalização da plataforma P-68 – e o fortalecimento de novos setores, como a indústria criativa, devem amenizar o quadro recente da indústria. O retorno da Samarco, estimado para o segundo semestre, inicialmente com 60% da capacidade de operação, é outra perspectiva de reaquecimento das diferentes cadeias produtivas no Estado.
Para o Ideies, haverá alta de 1,5% no PIB da indústria de transformação em 2017 – não recuperando o tombo de 6% em 2016. Projeção da CNI para a indústria de transformação nacional aponta acréscimo de 1,1%, após queda de 5,2% no PIB do setor no ano passado. “Serão dois ou três anos de bastante trabalho e muitos ajustes”, prevê o presidente do Sistema Findes. “Não teremos um 2017 de desemprego crescente, mas a absorção de novos profissionais será prejudicada pelo crescimento lento”, complementa.
Crise política: risco ou oportunidade?
Guerra e Porto concordam que o momento político do país traz riscos e oportunidades. O diretor executivo do Ideies teme que a instabilidade política possa interferir no desempenho econômico do país, com o surgimento de novas delações e a consequente paralisação do Congresso. O presidente do Sistema Findes vislumbra oportunidades de avanço na aprovação de agendas importantes e a chegada de investidores da cadeia de petróleo e gás.
“A crise política e fiscal do Rio de Janeiro, maior produtor nacional, combinada ao momento de instabilidade jurídica que vários Estados enfrentam, dá visibilidade ao bom exemplo do Espírito Santo. Com organização, segurança jurídica e controle fiscal, nosso Estado se torna a bola da vez para a cadeia produtiva. Acredito que vamos surpreender neste momento, abrindo novas oportunidades para as empresas do setor”, adianta.
A aproximação do Governo Federal com a iniciativa privada, segundo Dória Porto, representa outra chance de crescimento para o país. “A retomada depende da soma de investimento e consumo. O Governo não tem capacidade de investir porque está promovendo um ajuste fiscal. A solução pode estar nas Parcerias Público-Privadas (PPP”s), que garantem investimentos em projetos importantes com envolvimento da iniciativa privada”, pontua.
“Há outro lado bom na crise política: quando questionado, o Congresso quer dar exemplo, apagar a imagem negativa. Neste momento, fica mais fácil debater temas espinhosos com qualidade, votar e aprovar com celeridade. Se o núcleo central do Governo se mantiver ileso em meio às denúncias, conseguirá ter pulso para tocar as reformas essenciais para o país, consertando o que há de errado e atrasado no Brasil”, acrescenta Marcos Guerra.
Por Rafael Porto