Uso de águas subterrâneas para superar a crise hídrica em debate na Findes

O evento esclareceu diversos pontos sobre o uso deste recurso natural ainda pouco estudado no país

O Espírito Santo vem vivendo nos últimos anos uma situação preocupante de escassez hídrica. Atenta ao fato, a Federação das Indústrias do Estado do Espírito Santo (Findes), por meio do seu Conselho Temático de Meio Ambiente (Consuma), vem realizando desde o ano de 2014 diversas palestras e workshops sobre o tema, propondo soluções que possam atender às indústrias capixabas sem prejuízo ao meio ambiente.

A mais recente ação aconteceu nessa terça-feira (02), no Plenário do Ed. Findes, em Vitória, com a palestra “Uso de águas subterrâneas: entendendo os caminhos a serem percorridos”, ministrada pelo professor do Instituto de Geociências da Ufes e também vice-diretor do Centro de Pesquisas de Águas Subterrâneas da Universidade de São Paulo (USP), Ricardo Hirata.

A palestra esclareceu diversas dúvidas sobre o assunto, ainda considerado novo no Espírito Santo. “Existe mais desinformação do que informação sobre esse tema aqui no Estado”, disse o vice-presidente do Consuma, Roosevelt Fernandes, ao dar início ao evento. “Precisamos nivelar o nosso conhecimento ao de outros Estados que já avançaram no tema, pois há um grande potencial para o uso desse recurso no Espírito Santo, porém sem regras ou informações suficientes para que seja explorado adequadamente”, completou.

Ricardo Hirata iniciou sua palestra destacando a percepção um tanto quanto errônea que a população em geral tem sobre as águas subterrâneas. “São diversos pontos que mais geram dúvidas do que esclarecem. Perfurar um poço, por exemplo, é uma espécie de contrato de risco, pois ninguém garante o retorno de seu investimento. Além disso, a legislação existente sobre o tema ainda é pouco esclarecedora”, disse.

O professor da Ufes ressaltou também que o brasileiro, em sua maioria, desconhece o uso desse recurso, que é mais abrangente do que se imagina. “Apesar de ser um recurso restrito, cerca de 39% das cidades brasileiras possuem seu sistema de abastecimento exclusivamente provindo de águas subterrâneas”, afirmou Ricardo Hirata.

Entre as vantagens citadas por Ricardo Hirata em relação à exploração de águas subterrâneas, constam: custo de 50% a 70% menor do que o de águas superficiais (rios); mais segurança hídrica (não é afetada por grandes períodos se seca); sistema mais fácil de operar e com menor impacto ambiental; menor risco de contaminação. “O que precisamos agora é elaborar mais estudos e também outorgar de maneira eficiente a exploração de águas subterrâneas, pois é grande o número de poços clandestinos. Em São José do Rio Preto (SP), por exemplo, 81% dos poços são irregulares”, ponderou.

Sobre o Espírito Santo, o professor da Ufes destacou que há um enorme potencial, porém pouco estudado. “Na região norte-noroeste do Estado, que sofre mais com períodos de seca, sabemos que há grandes poços subterrâneos, o que poderia atenuar os problemas de abastecimento de água existentes. Contudo, ainda há poucos estudos relativos a esses mananciais. Percebo que o Espírito Santo possui tecnologia para realizar estudos geológicos, pois é o segundo maior produtor de petróleo do país. O ideal seria que houvesse parcerias entre o setor privado e as universidades para desenvolver pesquisas sobre o subsolo capixaba. Além disso, é preciso desenvolver melhor a legislação sobre o uso dessas águas”, concluiu Ricardo Hirata.

Ao final do evento, o presidente do Consuma, Wilmar Barros Barbosa, enfatizou a importância de se trabalhar com mais profundidade o assunto. “A palestra de Ricardo Hirata foi bastante esclarecedora, pois derrubou vários mitos a respeito das águas subterrâneas. Mas mostrou, também, que esse tema ainda carece de mais estudos e de legislações específicas. Temos um grande potencial a ser explorado, mas esse recurso tem que ser usado de maneira consciente e sustentável”, sublinhou Barbosa.

Por Fabio Martins

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