Um grupo de representantes de indústrias, de empresas de serviço e de entidades capixabas viajou a Ouro Preto e a Mariana (MG) para prestar apoio à aprovação do licenciamento ambiental do projeto da Cava Alegria Sul, alternativa para as barragens de rejeitos que permitirá à mineradora a voltar a operar. Membros da comitiva capixaba presentes nas audiências públicas de Ouro Preto e Mariana
Após um ano do rompimento da barragem de Fundão da Samarco, localizada em Mariana (MG), considerado o maior desastre ambiental da história do país, foram realizadas nessa quinta (14) e sexta-feira (15) duas audiências públicas obrigatórias no processo de licenciamento ambiental que pode permitir a volta da companhia às suas operações. As audiências públicas trataram especificamente do projeto de licenciamento ambiental da Cava Alegria Sul, considerada pela mineradora uma alternativa segura e viável em curto prazo para que a companhia volte a operar.
Uma comitiva de cerca de 30 pessoas, organizada pelo Sindicato das Indústrias Metalúrgicas e de Material Elétrico do Espírito Santo (Sindifer) e composta por representantes de indústrias, de entidades de classe — inclusive da Findes, na pessoa do vice-presidente Manoel Pimenta Neto –, e de empresas de serviços partiu de Vitória para representar o Espírito Santo nessas audiências, com o intuito de apoiar o pleito da Samarco e, dessa forma, recuperar os prejuízos econômicos e sociais gerados com sua paralisação. A comitiva também contou com a presença de jornalistas, que foram cobrir os eventos para a mídia do Espírito Santo.
Ouro Preto
Manoel Pimenta, vice-presidente da Findes
A primeira audiência pública foi realizada na noite de quarta-feira (14), no Centro de Convenções de Ouro Preto. Cerca de mil pessoas participaram, entre representantes da Samarco, sociedade civil, organizações não governamentais (ONGs), poder público e entidades de classe. O gerente de Meio Ambiente da Samarco, Marcio Perdigão, abriu a audiência apresentando detalhadamente o projeto de disposição de rejeitos da Cava de Alegria Sul, que será responsável por atender a 60% da produção da mineradora por um período de 20 meses.
“Há 400 dias estamos assumindo nossos erros, ouvindo críticas e trabalhando arduamente para corrigirmos os efeitos desse desastre”, disse Marcio. “Infelizmente, não podemos recuperar as 19 vidas perdidas com o acidente, mas sabemos da importância do retorno da Samarco para a economia dos estados do Espírito Santo e de Minas Gerais, bem como seus efeitos sociais diretos”, completou o executivo.
A seguir, foram ouvidos os representantes de diversos segmentos ali presentes, contra e a favor da volta das operações da mineradora. Pela comitiva capixaba, foi prestado total apoio à Samarco, levando em conta o enorme impacto social e econômico provocado por sua paralisação. “Para cada emprego gerado pela Samarco, outros 13 são criados indiretamente. Sua paralisação provocou um enorme prejuízo econômico e social,principalmente na região de Anchieta (ES), onde 80% da receita do município provinham dos tributos pagos pela mineradora”, disse Manoel Pimenta em sua fala na audiência. “Temos a plena confiança de que a empresa arcará com sua responsabilidade diante da tragédia – como já o vem fazendo -, e nós, da Findes, prestamos total apoio ao projeto aqui apresentado, que resultará no retorno de suas atividades”, concluiu.
Antônio Prando, vice-presidente Institucional da Findes em Anchieta e Região
Também se destacaram as falas do vice-presidente institucional da Findes em Anchieta e região, Antônio Prando, e do presidente do Centro Capixaba de Desenvolvimento Metalmecânico (Cdmec), Durval Vieira de Freitas. “Como morador da região sul do Espírito Santo, sou testemunha da tragédia social provocada pela paralisação da Samarco. São duas gerações de cidadãos que perderam empregos e que hoje passam dificuldades. Sabemos que a empresa assumiu suas responsabilidades para com o acidente e superará todos os desafios para voltar a operar”, disse Prando.
Já o presidente do Cdmec apontou para o futuro em relação à mineração no país e no mundo. “A Samarco sempre foi referência em tecnologia e segurança no trabalho, mas o desastre obrigou a empresa a buscar novas e inovadoras soluções nesse sentido. A partir de agora, a indústria da mineração inicia um novo ciclo de suas atividades em todo o mundo, tendo como base, mais uma vez, o que a Samarco vem desenvolvendo após o desastre em Mariana”, ressaltou Durval.
Visita à Samarco
Na manhã de quinta-feira (15), um grupo destacado da comitiva capixaba, incluindo jornalistas, foi convidado pela Samarco a visitar as instalações da empresa em Mariana (MG). Por conta do mau tempo, não foi possível visitar a barragem de Fundão para conferir de perto as obras ali realizadas. Contudo, os convidados puderam conhecer a Cava de Alegria Sul, que depende da aprovação do licenciamento ambiental para que a mineradora volte a operar.
O diretor de Projetos e Ecoeficiência da Samarco, Maury de Souza Júnior, apresentou detalhadamente todo o planejamento das operações da empresa caso a licença ambiental seja concedida, bem como as alternativas que estão sendo desenvolvidas para a contenção dos rejeitos da mineração. “Temos 23 produtos que podem ser desenvolvidos a partir dos rejeitos, que vão de telhados a pigmentos para tintas. São 20 engenheiros da Samarco estudando todas as alternativas possíveis. Nossa busca agora é por parcerias, tanto com a iniciativa privada, quanto com o poder público, para que possamos criar esses produtos e, com isso, reduzir ao máximo a necessidade de se depositar rejeitos”, disse Maury.
Reunião da comitiva capixaba com a Samarco
A seguir, os convidados capixabas foram conduzidos ao setor de monitoramento em vídeo das barragens, aperfeiçoado tecnologicamente após o desastre, e à Cava de Alegria Sul, onde está previsto o depósito de rejeitos que comportarão 60% da produção total da Samarco. “A Cava de Alegria Sul comportará um total de 17 milhões de metros cúbicos de rejeitos durante dois anos. Trata-se da alternativa mais segura que temos, pois é um local profundo e já utilizado para retirada de minério, com riscos mínimos de colapso do solo. Dessa forma, aplicaremos nossa política de segurança máxima e mínimo impacto”, explicou o diretor da Samarco.
Engenheiro da Samarco explica aos membros da comitiva capixaba os detalhes sobre o funcionamento da Cava de Alegria Sul (ao fundo)
Mariana
Na noite de quinta-feira (15), foi a vez da audiência pública em Mariana, realizada no Centro de Convenções daquele município. Na presença de cerca de três mil pessoas, os representantes do setor privado e da sociedade civil dividiram suas falas com uma maior participação do poder público, incluindo o prefeito de Mariana, Duarte Júnior, que defendeu a volta das operações da Samarco, destacando o compromisso social já existente por parte da empresa desde antes do acidente.
Durval Vieira de Freitas, presidente do Cdmec
Em Mariana, o vice-presidente da Findes, Manoel Pimenta, acrescentou em sua fala aquilo que chamou de “enorme capital social, que não pode ser ignorado com essa paralisação”. Disse Pimenta: “São famílias inteiras desestruturadas com a perda do emprego, trazendo impactos que vão da educação dos filhos ao próprio lazer, além da geração de dívidas. Estou aqui, portanto, representando cerca de 15 mil indústrias capixabas que defendem o retorno da Samarco de maneira absolutamente responsável, como é característica de suas atividades desde o início de suas operações no Espírito Santo e em Minas Gerais”.
Análise
Após a audiência pública em Mariana, membros da comitiva capixaba avaliaram o que foi debatido. “Nós acreditamos na capacidade de recuperação da Samarco e temos certeza de que a empresa cumprirá com todos os requisitos legais para obter o licenciamento ambiental e voltar a operar e, finalmente, gerar emprego e renda num momento tão complicado da nossa economia”, disse o vice-presidente institucional da Findes em Anchieta e Região, Antônio Prando.
O presidente do Cdmec, Durval Vieira de Freitas, destacou a atuação da comitiva capixaba, lembrando que o trabalho começou logo após o desastre. “A participação da comitiva capixaba nessas duas audiências foi o coroamento de 12 meses de trabalho. Desde dezembro de 2015 fizemos um esforço muito grande, com diversas reuniões junto ao poder público e à sociedade, no intuito de buscar as melhores soluções para o retorno da Samarco, respeitando a população e o meio ambiente, visando a que a mineradora volte a operar já no início de 2017”, enfatizou Durval.
Já o vice-presidente da Findes, Manoel Pimenta, concluiu: “Após essas duas audiências, constatamos que toda a sociedade quer a volta das operações da Samarco. Mesmo aqueles que fizeram duras críticas à empresa defenderam o seu retorno, pois todos entendem que os empregos gerados são de suma importância não somente para Espírito Santo e Minas Gerais, mas para todo o país. O projeto técnico apresentado pela mineradora foi exemplar e acreditamos que não haverá dificuldades em obter a licença ambiental. Por fim, a participação da comitiva capixaba foi fundamental para que a sociedade consolidasse esse apoio, pois estivemos em grande número e levamos a realidade de nosso Estado para nossos companheiros de Minas Gerais”.
A comitiva capixaba
A comitiva capixaba organizada pelo Sindifer representou o setor produtivo e de serviços do Espírito Santo nas audiências em Ouro Preto e Mariana. Estiveram presentes nesta comitiva representantes do Sindifer, Findes, Sindicato da Indústria da Construção Civil do Espírito Santo (Sinduscon), Sindicato da Indústria de Construção Pesada do Espírito Santo (Sindicopes), Sindicato da Arquitetura e Engenharia do Espírito Santo (Sinaenco), Cdmec, Sindicato das Empresas de Transporte e Logística do Espírito Santo (Transcares), Secretaria de Estado de Desenvolvimento (Sedes), Conselho Regional de Engenharia (CREA-ES), e imprensa.
Vale destacar que diversas outras comitivas capixabas também compareceram às duas audiências públicas representando outros segmentos da sociedade em apoio à Samarco, incluindo comércio, trabalhadores e outros. Além disso, uma comitiva específica da região de Anchieta ficou impossibilitada de participar por conta das fortes chuvas que atingiram o Espírito Santo nos últimos dias, inviabilizando o trecho de rodovia que seria percorrido – ausência esta destacada nas falas dos representantes da comitiva do Sindifer na audiência de Ouro Preto.
Por Fabio Martins