A conjunção de fatores como a ausência de investimentos no sistema energético brasileiro, a escassez de água nos reservatórios e o uso intensivo das usinas termelétricas acendeu o sinal de alerta na indústria capixaba. De acordo com o Conselho Temático de Energia da Findes (Conerg), os riscos e impactos associados para o segmento industrial, oriundos das últimas decisões econômicas e regulatórias do governo federal, com reflexos na precificação da energia no curto e médio prazos, já se tornam um grave obstáculo ao desenvolvimento sadio das suas atividades e acendem um alerta para o setor quanto à possibilidade de eventual desabastecimento no horizonte dos próximos 12 meses.
O presidente concedeu entrevista ao noticiário “Bom Dia Espírito Santo” sobre o tema.
“Não devemos adotar um tom alarmista entre os capixabas, mas precisamos nos articular para garantir que a indústria não seja prejudicada pelas ingerências do setor energético brasileiro”, destaca o presidente do Sistema Findes, Marcos Guerra. “Precisamos estimular o consumo consciente e a adoção de boas práticas de gestão em nossas indústrias. A busca pela eficiência energética será essencial para não comprometer o desenvolvimento de nossas ações”, completa.
De acordo com o parecer técnico do Conerg, problemas estruturais inerentes à filosofia de planejamento da expansão do sistema elétrico, de despacho hidrotérmico e de gestão das obras atingiram seu ápice, potencializados por uma condição hidrológica adversa e pelo crescimento substancial da carga em razão de políticas federais de fomento ao consumo. Dado o presente cenário, cresce, ainda, o risco de operação no SIN – Sistema Interligado Nacional -, em face da maximização do uso das instalações de transmissão para a transferência de grandes blocos de potência entre regiões, com reflexos evidentes no incremento do número de blecautes (“apagões”) verificados nos últimos meses, imputando graves prejuízos às unidades industriais afetadas.
“Na esteira das falhas estruturais nas políticas e regulamentos vigentes, o Estado do Espírito Santo se vê, novamente, em uma situação delicada para assegurar as condições necessárias ao seu suprimento de energia elétrica segundo índices de continuidade e qualidade que permitam o seu desenvolvimento sustentado a médio e longo prazos”, destaca a nota técnica do Conselho de Energia da Findes.
Ação integrada entre sindicatos e Senai para a eficiência energética
O Conerg propõe uma ação integrada junto aos sindicatos industriais e às empresas associadas à Findes para comunicar sobre os riscos vislumbrados, assegurando-lhes a antecedência necessária à adoção de ações que amenizem a sua exposição à ameaça de desabastecimento, “blindando” suas empresas na hipótese de um agravamento da presente conjuntura. Adicionalmente, o Conselho de Energia propõe a defesa de políticas de fomento a ações efetivas para a racionalização e conservação da energia, sobretudo elétrica, devendo ser buscadas no curto, médio e longo prazos, pela mobilização da estrutura do Senai-ES para suporte a programas de eficiência energética junto ao segmento industrial.
Propõe-se, ainda, o incentivo à adoção da norma ISO 50.001 – Sistema de Gestão da Energia – junto ao segmento industrial, como uma maneira de assegurar políticas consistentes e duradouras para o mapeamento e quantificação dos riscos e dos usos da energia nas instalações, bem como para a racionalização do consumo. Por fim, a defesa de mudanças significativas nas políticas e filosofias de planejamento da expansão do sistema elétrico faz-se premente, focando na autossuficiência energética de cada Estado e região, em contraponto à atual política de expansão do sistema de transmissão dissociada da geração. Faz-se necessária, também, a defesa da utilização de fontes firmes para a geração de energia elétrica no planejamento da expansão do setor.
Com relação à política de despacho, deve-se defender a preservação dos níveis de armazenamento dos reservatórios das hidrelétricas, com a adoção do ponto ótimo de operação das curvas de desempenho de cada instalação nos modelos de precificação da energia e de determinação do despacho hidrotérmico, para que se evitem situações conjunturais adversas como a presente.
Análise da situação energética conjuntural e riscos ao desenvolvimento das atividades econômicas no segmento industrial – Conselho Temático de Energia da Findes (Conerg):
— Característica do SIN: transferência de grandes blocos de energia de uma região para outra, originando um desbalanceamento entre a oferta e a demanda regionais.
— Atraso sistematizado nos cronogramas de construção de novas subestações, linhas e reforços na transmissão.
— Expansão do parque gerador por meio da construção de usinas eólicas e de usinas hidrelétricas à fio-d’água (sem reservatório).
— Em dezembro de 2013, o nível de armazenamento era de apenas 41,6% na região SE/CO e de 22,2% na região NE.
— Regime hidrológico desfavorável em 2014: as precipitações não ocorreram sobre as principais bacias hidrográficas do país.
— Elevação considerável no consumo, sobretudo residencial, nunca antes percebida (elevadas temperaturas, redução fiscal da linha branca, redução de tarifa).
— O cenário mais factível: manutenção, pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (NOS), do despacho das usinas termelétricas nos níveis atuais ao longo da maior parte do ano.
— Emitir alerta aos segmentos industriais no sentido de buscarem preventivamente a racionalização do seu consumo de energia elétrica;
— Recomenda-se, também, a avaliação de outras alternativas para a redução de sua exposição ao problema.
— Criação de uma “força-tarefa” no Senai-ES para orientar o empresariado acerca de ações de promoção da eficiência energética e da conservação de energia em suas indústrias.
— Incentivar os sindicatos federados e suas empresas associadas quanto à adoção da norma ISO 50.001 – Sistema de Gestão da Energia.
— Defesa junto aos meios de comunicação e aos canais políticos, de forma a privilegiar a autossuficiência de geração nas regiões em detrimento da expansão desmedida da malha de transmissão.
— Defesa da introdução de uma metodologia de planejamento que trate a expansão do parque gerador como uma alternativa aos problemas de transmissão.
— Defender a recuperação do nível de energia assegurada disponível no SIN através da introdução de uma política de despacho hidrotérmico que considere o ponto ótimo de operação na curva de desempenho.