O presidente da Federação das Indústrias do Estado do Espírito Santo, Marcos Guerra, fala sobre a questão
A proposta de cortes de 30% nos repasses ao Sistema S, em estudo no governo federal, pode comprometer o atendimento a 1,2 milhão de alunos do ensino profissional do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e 1,5 milhão de trabalhadores pelo Serviço Social da Indústria (Sesi), nos programas de educação, saúde e segurança do trabalho e qualidade de vida. O alerta foi feito no último dia 22 de setembro, pelo presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade, em visita ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). O tema ainda será debatido pelo Congresso Nacional.
Durante o encontro, Andrade destacou que um eventual corte nos recursos afetará, sobretudo, a estrutura do Senai e Sesi nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, pelo fechamento de escolas e pela fim da gratuidade atualmente oferecida. Confira abaixo os principais trechos da entrevista concedida pelo presidente da CNI, em que ele defendeu reformas estruturais, como a da Previdência e a administrativa, e a responsabilidade fiscal na discussão de propostas que elevam os gastos públicos:
Sistema S
“Tratamos, principalmente do Sesi e do Senai, mostrando a importância que esse sistema tem para a educação e para a qualificação profissional do país. O Senai acaba de ser classificado como a melhor escola do mundo, como mostra o resultado da olimpíada (a WorldSkills 2015, em São Paulo), em que competimos com alunos da Coreia do Sul, China, Alemanha, e de todos os grandes países.
O Senai hoje está transferindo tecnologias para escolas de fora do Brasil. Não podemos acabar com isso. A proposta que foi ventilada realmente vai trazer grandes sacrifícios para o Senai e para o Sesi, provavelmente com fechamento de escolas nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Provavelmente, com muitos alunos deixando de ter a educação profissional que hoje lhes é oferecida e de maneira gratuita.”
Possíveis consequências do corte
“O Sesi e o Senai recolhem, por ano, R$ 7,9 bilhões. Nós temos, com a gestão séria que fazemos, o suficiente para dez meses de salários e despesas para manter o sistema funcionando. Se você tira 30% dos recursos, principalmente os estados de Norte, Nordeste e Centro-Oeste não têm como sobreviver. Isso porque o volume maior das nossas receitas está concentrado nos estados de Sul e Sudeste, que têm muito de seus recursos destinadas para cobrir as necessidades das outras regiões.
O presidente Renan conhece o sistema, entende nossas dificuldades e os problemas que nós enfrentaríamos. Ninguém quer deixar de atender 1,2 milhão de alunos e 1,5 milhão de trabalhadores, que é o que iria acontecer. Hoje estamos negociando também com a Casa Civil e o ministro Aloizio Mercadante, juntamente com o ministro Armando Monteiro (do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior), um entendimento que possa resolver esse assunto sem que haja prejuízos grandes para o Sistema S, mas que também ajude a União e o governo a minorar os problemas que têm de caixa.”
Responsabilidade fiscal
“Falamos bastante dos vetos aos projetos que a presidente (Dilma Rousseff) devolveu ao Congresso Nacional, da importância de que esses vetos sejam mantidos. O país está passando por uma dificuldade muito grande e, independentemente do mérito de um ou outro projeto ou aumento de despesa, nós entendemos que o país não pode, de maneira alguma, aceitar qualquer tipo de aumento de custo. Estamos extremamente fragilizados.”
Impostos e CPMF
“Somos completamente contra o aumento de impostos. Achamos que a sociedade já paga muitos impostos e que, devido a isso, nossos produtos não são competitivos com produtos importados. Somos contra aumento, qualquer que seja ele.
Somos contra (a CPMF) porque quem paga o custo do imposto é a sociedade e entendemos que já se paga muitos impostos. Chegou a hora de o governo não, simplesmente, adotar pequenas alternativas que possam minorar o problema por pouco tempo. O governo tem que fazer reformas grandes. O Brasil, os empresários, a sociedade estão clamando por isso. Os movimentos sociais querem mudanças, e mudanças definitivas. Não apenas pequenos remendos que podem dar um pouco de recurso no caixa para atravessar alguns meses.”
Reformas estruturais
“Achamos que no governo, no Congresso, estamos num momento muito oportuno para fazer as reformas duras, difíceis. Talvez com sacrifícios da sociedade, das empresas e dos políticos. Mas são reformas que precisam ser feitas de maneira definitiva para o Brasil. A questão da reforma da Previdência, uma reforma administrativa séria e coerente. Reformas que possam colocar o Brasil com uma perspectiva de futuro de desenvolvimento e de crescimento condizente com o tamanho do nosso país. É preciso fazer com que a gente recupere a autoestima, mas também a capacidade de investir e gerar emprego e renda. Isso só vamos conseguir se fizermos agora as reformas que são importantes e difíceis.”
Por Guilherme Queiroz da Agência CNI de Notícias