06/10/2014 – Artigo – Um ano decisivo para a indústria

Artigo originalmente publicado no site da Câmera de Comércio Americana do Rio de Janeiro no dia 6 de outubro de 2014 

*Por Marcos Guerra, presidente da Federação das Indústrias do Estado do Espírito Santo (Findes) e vice-presidente eleito da Confederação Nacional da Indústria.

A indústria brasileira vive hoje um dos momentos cruciais de sua história. Desde 1957, quando Juscelino Kubitschek ainda era presidente do país, a indústria de transformação não alcançava patamares tão baixos de participação no Produto Interno Bruto. Depois de 1985 – ano em que atingimos o auge de 27,2% do PIB – a indústria perdeu competitividade e peso em nossa economia, chegando aos 13% atuais de participação. Vivemos um processo de desindustrialização que tem afetado o desenvolvimento e a qualidade do emprego no Brasil.

Este é um ano perdido para a indústria nacional. O mês de julho teve o pior saldo líquido de empregos dos últimos 15 anos, segundo o Caged. Dados do IBGE revelam que a economia recuou 0,6% no segundo trimestre e os especialistas falam em recessão técnica. A produção física industrial registrou cinco meses consecutivos de queda neste ano, acumulando retração de 3,5% de fevereiro a junho. Números não faltam para reforçar o clamor dos industriais: é preciso criar, urgentemente, um plano de curto, médio e longo prazo para recuperação da indústria brasileira.

Embora esteja perdido sob análise econômica, 2014 é um ano importante e decisivo para a indústria do ponto de vista político. A movimentada corrida eleitoral para a Presidência da República, com debates acalorados e muitas promessas feitas, configura um bom momento para cobrar medidas que coloquem a economia novamente no rumo. A reforma tributária, trabalhista e política, as obras de infraestrutura, a desburocratização e outros tantos projetos voltaram a figurar nos programas de Governo. São bandeiras discutidas há anos, que dariam fim ao chamado Custo Brasil.

É necessário entender que, sem uma indústria competitiva, nosso país se tornou paroquiano. Perdemos espaço para os produtos internacionais de maior valor agregado no mercado externo e interno. Ao invés de dar competitividade à indústria, com juros menores e investimentos que criassem uma condição mais competitiva, o Governo recorreu a barreiras protecionistas para conter o avanço dos importados, quando o que queremos, na verdade, é uma gestão que ouça quem produz e coloque a indústria no centro do debate do desenvolvimento econômico brasileiro.

Os números da balança comercial enfatizam a ineficiência das medidas recentes. Tivemos o pior janeiro desde 1993, os dados seguiram ruins mês a mês e o primeiro semestre fechou com o pior resultado dos últimos 18 anos – um déficit de R$ 3 bilhões. Até mesmo a exportação de commodities, fator que impulsionou o crescimento da economia brasileira nos últimos anos, se mostra instável com o arrefecimento do mercado chinês.

Neste cenário, as relações econômicas e bilaterais do Brasil com os Estados Unidos – que se recupera rapidamente dos efeitos da crise mundial – são essenciais para a indústria nacional. Nosso país é hoje o oitavo maior parceiro dos americanos, mesmo que esta relação ainda represente apenas 1% do comércio global. No ano passado, 53% de nossas exportações para os EUA eram compostas por manufaturados, com destaque para aviões, máquinas e combustíveis – tema que desperta o interesse dos americanos e pode ser pauta de novos acordos bilaterais, como os que envolvem a produção de biocombustíveis.

Estreitar a relação entre os dois países poderá garantir novos estímulos à inovação, fortalecendo uma cadeia produtiva de maior valor agregado, mais rentável e com mais visibilidade para a indústria brasileira. Para alcançarmos este resultado, será preciso encurtar caminhos e diminuir os velhos entraves que pesam sobre os ombros dos industriais. Que o exemplo de 2014 nos mobilize a projetar um futuro mais competitivo, com projetos de Governo robustos, voltados para a efetiva recuperação da indústria brasileira. Nossa economia agradece.

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