01/09/2016 – Seminário discute os rumos do mercado audiovisual e sua relação com a indústria

O seminário do Mercado da Indústria Audiovisual – Semeia, realizado nessa quinta-feira (01/09) na Findes, em Vitória, contou com palestras de André Sturm, presidente do Sindicato da Indústria Audiovisual de São Paulo, e de Antônio Tabet, um dos fundadores do canal Porta dos Fundos

O Seminário do Mercado da Indústria Audiovisual – Semeia, realizado nessa quinta-feira (01), no auditório do Ed. Findes, em Vitória, promoveu palestras e debates com duas referências nacionais no segmento: André Sturm, presidente do Sindicato da Indústria Audiovisual do Estado de São Paulo (Siaesp) e presidente do portal Cinema do Brasil, e Antônio Tabet, roteirista e humorista, um dos criadores do canal Porta dos Fundos e do site Kibe Loco.

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Voltado para profissionais do cinema e do audiovisual, além do setor acadêmico, o evento foi uma oportunidade única para saber mais detalhes sobre a relação da atividade de produção audiovisual com a indústria, e também sobre os novos formatos de linguagem e de negócios do setor. O seminário foi uma realização do Sistema Findes, por meio de Sesi-ES e Senai-ES, em conjunto com o Sindicato da Indústria Audiovisual do Estado do Espírito Santo (Sinaes).

Logo na abertura do evento, o diretor regional do Senai-ES e superintendente do Sesi-ES, Luis Carlos Vieira, anunciou os cursos de Roteiro para Cinema e Produção para TV e Cinema, que serão ministrados pelo Senai-ES em parceria com a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan). Cada curso terá carga horária de 40h e oferecerá 25 vagas gratuitas, totalizando 50 vagas. As aulas ocorrerão no Senai Vitória (Cetec Beira-Mar), a partir do dia 19 de setembro. “Com esses cursos, queremos que o segmento de audiovisual capixaba enxergue no Sistema Findes um parceiro na formação de profissionais para o setor”, destacou Luis Carlos Vieira em sua fala.

“Este é o primeiro fruto após a criação do Sinaes e sua posterior filiação à Findes”, disse o presidente do Sinaes, Carlos Magno Correa Santos. “Essa aproximação com a indústria tradicional, na verdade, renderá muitos outros frutos, não somente com a formação de novos profissionais, mas também na geração de novos negócios, empregos e renda. Além disso, essa parceria do Senai-ES com a Firjan, que fornecerá o vasto know how do Senai-RJ nesse segmento, deve se estender para todo o Espírito Santo, pois somos um Estado de pequenas dimensões, mas de grande potencial”, completou Magno.

O secretário de Estado de Cultura, João Gualberto Vasconcellos, também presente no evento, destacou em sua fala a parceria entre o poder público e o Sistema Findes. “Quando aceitei o desafio de ser secretário de Cultura, assumi o compromisso de trabalhar de maneira mais incisiva na questão da economia criativa, com foco na geração de negócios, que por sua vez trazem emprego e renda para a população. E o Sistema Findes, junto com o Sinaes, sempre foram nossos parceiros, pois é assim que se constrói uma política pública de cultura”, disse o secretário.

André Sturm

Primeiro a palestrar, André Sturm iniciou sua apresentação contando sobre o fortalecimento da indústria de cinema norte-americana após a 2ª Guerra Mundial,chegando hoje ao ponto de se tornar a maior do planeta. Sturm também citou o exemplo específico da cidade de Nova Iorque que, nos anos 70, era uma das mais violentas dos EUA, e que reverteu a situação ao investir na sua imagem por meio do cinema, com políticas públicas de incentivo. “O cinema é muito mais do que apenas vender ingressos para seus filmes”, disse. “Trata-se de uma indústria que movimenta toda uma cadeia produtiva, criando um círculo virtuoso que movimenta não somente o setor em si, mas toda a economia”, completou.

O presidente do Siaesp abordou, também, a mudança de postura dos produtores de cinema nacional a partir da maior aproximação com o poder público, utilizando-se de um fundo específico para o fomento do produto nacional no exterior por meio da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), além da atuação no sentido de promover uma maior presença brasileira nos festivais de cinema internacionais.

“O produtor de cinema brasileiro passou a entender que, mesmo que o seu filme não participasse de um festival internacional, era muito importante a sua presença no mesmo festival, fosse para se fazer conhecido pelo mercado mundial, fosse para firmar parcerias”, disse André Sturm, que ainda destacou os resultados obtidos com a implementação da “Lei da TV Paga” (Lei nº 12.485). “Bastante criticada no início, a lei promoveu um verdadeiro boom de produções nacionais nos canais de TV a cabo, sempre com alto padrão técnico em suas produções e boa audiência. Isso gerou uma enorme demanda por bons roteiristas, profissionais de câmera, luz, edição e animação, entre tantos outros”, ressaltou André.

Antônio Tabet

Bastante aguardada pelo público mais jovem, que tem o canal Porta dos Fundos como referência em humor atualmente, Antônio Tabet começou sua palestra contando sobre o início de tudo, quando ele e os seus parceiros ainda trabalhavam na Rede Globo, no Rio de Janeiro. “Nós sempre pensávamos coisas novas, em alguma coisa que nos inspirasse, mas todas as nossas ideias eram vetadas pela Globo”. Após serem demitidos da maior rede de comunicação da América Latina, o caminho natural para os cinco jovens com ideias fora do formato tradicional de televisão era um só: a web.

“Começamos com apenas uma câmera – de ótima qualidade, mas era apenas uma -, um microfone e locações alugadas. Em paralelo a isso, apresentamos nosso programa para três canais de TV a cabo: MTV, Sony e Fox. A primeira nem recebeu a gente, e acabou ‘acabando’, né? A Sony disse que não tinha verba. E a Fox nos preteriu em prol de outro humorista, cujo programa não deu certo, e acabou nos contratando por 10 vezes o valor que nós pedimos anteriormente”, comemorou Tabet.

Por apostar nas então chamadas ‘novas mídias’, com o uso de plataformas digitais e maciça propagação nas redes sociais, o Porta dos Fundos conseguiu se tornar um dos 100 canais on line mais vistos do planeta. Mas com um senão. Antônio Tabet explicou: “descobrimos que os nossos ‘concorrentes’ estrangeiros que estão entre os canais mais vistos possuem uma média de 70% de audiência global (mundial) e 30% de audiência local. O fato de falarmos português nos restringe a 90% de audiência local. Nossa língua é um fator restritivo para conquistarmos mercados fora do país”. E finalizou sua palestra com o seguinte recado: “Você tem que ter uma ‘paixão amadora’, aquilo pelo que muitos te chamarão de maluco, mas que seja uma motivação genuína, original. O que fazemos não é só trabalho. Temos essa paixão”.

Debate

Após as palestras, o professor e doutor do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal do Estado do Espírito Santo (Ufes), Klaus’Berg Bragança, mediou o debate, com Tabet e Sturm respondendo às perguntas da plateia, cada qual sob a ótica em que atua. Confira os destaques, de acordo com as questões levantadas pelo público presente no evento:

Novo governo e a polarização do debate político no país:

André Sturm – “Meu partido é o audiovisual. Tivemos grandes conquistas nos últimos anos e batalharemos por mantê-las, independentemente do partido político que estiver no poder”

Antônio Tabet – “Trata-se de um momento sombrio, em que se promove a demonização das políticas culturais. Isso não é bom para ninguém”

Leis de incentivo:

André Sturm – “Os incentivos fiscais para se investir em projetos culturais são ótimos, mas é preciso enxergar também o potencial de mercado em sua produção que for contemplada com algum edital, até mesmo para sobreviver num panorama hipotético de redução desses incentivos”

Antônio Tabet – “Há distorções sim! Alguns projetos merecem a polêmica que ganharam. Um blog ou exposição captarem R$ 2 milhões é, no mínimo, estranho. Ainda mais se compararmos com uma produção cinematográfica, que envolve centenas de profissionais, campanhas de marketing e tudo o mais, e custam pouca coisa mais que isso. As leis de incentivo ajudam a todos nós, mas, como o André citou, é preciso haver um foco no mercado para não depender somente delas”.

Como sobreviver no mercado audiovisual – Brasil e Espírito Santo:

André Sturm – “O primeiro passo, antes de mais nada, é associar-se à Ancine (Agência Nacional do Cinema), que é o órgão do governo federal que cria o ambiente para que o produtor de cinema nacional faça parte do mercado, tenha acesso aos festivais – nacionais e internacionais -, firme parcerias diversas, e também receba orientações sobre as leis de incentivo. Depois, como já citei, é preciso definir qual mercado você vai atingir. Fazer um filme somente para exibi-lo em poucos festivais ou sonhando em exibição nas salas de cinema para o público em geral é tarefa ingrata, pois você concorrerá com oligopólios que, sozinhos, dominam mais de 70% das salas de exibição. Você tem que pensar em qual mercado quer atingir e usar de todas as plataformas possíveis para a veiculação”.

Antônio Tabet – “Eu vejo em Vitória, por exemplo, um enorme potencial para se tornar um polo de cinema e atrair, literalmente, todos os holofotes para cá. Pense no município de Paulínia, que antes de criar seu polo de cinema ninguém no país sabia que existia. Vitória pode pegar alguns aspectos culturais típicos seus e explorá-los por meio do cinema. Vocês, capixabas, moram numa cidade linda e com recursos!”

Outra dica que eu dou é: seja original! Não adianta apostar num canal de maquiagens ou culinária só porque vários estão bombando no YouTube se não fizer diferente! Quer fazer um canal de maquiagem? Então faça-o pegando, por exemplo, um motociclista tatuado e barbado e metendo maquiagem nele. Todos vão adorar porque ninguém imaginaria isso acontecendo! É o inusitado que vende! Copiar, pura e simplesmente, não vai dar certo.”.

Por Fabio Martins

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