Selic cai, mas ainda não chega ao tomador do crédito

“O lucro dos bancos é absurdo, tanto para o consumidor quanto para empresários. As taxas de juros elevadas atrapalham o crédito para a população”, alerta o presidente da Findes, Léo de Castro

Em sua mais recentemente reunião, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) reduziu a taxa básica de juros para 5% ao ano. A decisão foi unânime, produzindo a terceira queda consecutiva e renovando a mínima histórica da Selic. O fato começa a ter reflexos na economia, mas não alcança o tomador de crédito. “Com as contínuas quedas na taxa Selic, uma grande controvérsia do mercado financeiro brasileiro volta à tona: por que a diferença entre o que os bancos pagam e o que cobram pelos recursos de seus clientes é tão grande no Brasil?”, questiona o presidente da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), Léo de Castro.

Essa diferença, conhecida como spread bancário, tem grande impacto sobre a eficiência, a produtividade e o crescimento da economia do país, afetando a vida de toda a população. Os altos níveis de spread são apontados como um dos principais obstáculos à expansão e democratização do crédito, e, desta forma, restringem o desenvolvimento econômico brasileiro. Em março deste ano, o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, deu declarações garantindo que iria trabalhar duro para reduzir o spread bancário. Campos Neto disse que o BC vai se empenhar para aumentar a competição bancária.

Após o anúncio de corte na Selic pelo Banco Central, alguns bancos divulgaram redução das taxas de juros do crédito. O Banco do Brasil garante que vai reduzir taxas para pessoas físicas e jurídicas; a Caixa Econômica Federal diz que os clientes, pessoas físicas ou empresas, pagarão menos juros nas principais linhas de crédito e terão acesso a um pacote de serviços com taxas mais baixas; e o Itaú Unibanco afirma que repassará integralmente a seus clientes o corte de 0,50 ponto percentual na taxa Selic. Para pessoa física, a redução será no empréstimo pessoal e, no caso de pessoa jurídica, no capital de giro.

Sem redução de taxas

Apesar da redução da Selic, o que pessoas físicas e jurídicas continuam a assistir são bancos tendo cada vez mais lucro. Entre julho de 2018 e junho de 2019 o lucro dos bancos foi de R$ 109 bilhões, informou o diretor de Fiscalização do BC, Paulo Souza, durante a apresentação do Relatório de Estabilidade Financeira. Esse é o maior lucro nominal – sem considerar a inflação – em 25 anos, desde o lançamento do Plano Real, em 1994. Os dados mostram que o resultado é 18,4% superior ao lucro de R$ 92 bilhões registrado entre julho de 2017 e junho de 2018.

O diretor do BC salienta que as instituições financeiras têm reduzido os juros em linhas de financiamento imobiliário, no crédito consignado e no crédito rural, mas concorda que em modalidades como cheque especial e crédito pessoal ainda há espaço para uma redução das taxas. “O lucro dos bancos é absurdo, tanto para o consumidor quanto para empresários. Os bancos argumentam que os juros ainda estão altos por causa da inadimplência, mas há outras formas de enfrentamento. As taxas de juros elevadas atrapalham o crédito para a população”, alerta o presidente da Findes. Para Castro, o problema com a inadimplência pode ser reduzido com ações propostas pela Agenda BC+, pelo Cadastro Positivo, pela duplicata eletrônica e pelas Fintechs – que começam a aumentar a competitividade no setor.

“O corte na Selic afeta a economia em geral. As reformas estão indo numa direção que deve estabelecer um novo padrão de crescimento econômico, com maior solidez fiscal. Nessa hora da retomada, o Espírito Santo sai mais rápido da crise, porque tem a casa arrumada e até mesmo recursos extraordinários provenientes das receitas do petróleo”, analisa o economista e diretor executivo do Instituto de Desenvolvimento Educacional e Industrial do Espírito Santo (Ideies), Marcelo Saintive.

Apurada pela última pesquisa Focus, a expectativa para a taxa Selic de 2019 está sendo mantida em 5,50% a.a. Já as projeções de inflação para 2019, 2020, 2021 e 2022 encontram-se nos patamares de 3,80%, 3,90%, 3,75% e 3,50%, respectivamente.

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